Em meio ao ciclone Idai, que atingiu o centro de Moçambique no dia 14 de março e deixou quase 900 mortos, uma mulher deu à luz uma menina em cima de uma árvore. Identificada como Amélia, ela estava em casa com o filho de 2 anos, a poucos quilômetros de distância da cidade de Dombe, na província de Manica, quando começou a tempestade. Só esta região registrou mais de 3 mil desabrigados. A bebê, chamada Sara, aparenta estar bem de saúde, informou a Unicef nesta terça-feira.
"Sem aviso, a água começou a entrar dentro da casa, e eu não tive outra opção a não ser subir numa mangueira. Então as dores começaram, e eu não tinha ninguém por perto para me ajudar. Em cima daquela árvore eu dei à luz a minha filha Sara. Eu estava sozinha com a Sara e o meu filho, ficamos naquela árvore durante dois dias depois do nascimento da Sara. Mais tarde, os vizinhos me ajudaram a descer e chegamos a este lugar seguro", disse a mulher, que não soube dizer sua própria idade.
Sara é amamentada constantemente por Amélia, que recebe apoio das outras mães afetadas pelo Idai no centro de acomodação improvisado de Nhamhemba, em Dombe. A área está localizada num vale de 80 quilômetros, irrigado por vários rios que, devido ao ciclone, transbordaram e inundaram toda a região.
Amélia também recebe assistência de saúde e nutrição do agente comunitário de saúde Josias Tchaka, que também perdeu sua casa e seus bens durante o ciclone, mas, por ter sido treinado desde 2015 pelo Ministério de Saúde, foi o único responsável pelos cuidados primários de saúde e nutrição para os seus vizinhos.
O ciclone afetou 1,9 milhões de pessoas, das quais 1 milhão são crianças. As chuvas torrenciais e os fortes ventos causaram uma extensa destruição e inundações, que, de acordo com o último relatório, mataram quase 900 pessoas não só em Moçambique mas também no vizinho Zimbábue. Os esforços de resgate e assistência humanitária ainda estão em curso nas áreas mais atingidas.
Sara não foi a única menina a nascer durante a passagem do ciclone. A pequena Teresa José nasceu em 15 de março, na escola primária de Matarara, no distrito de Sussundenga, também província de Manica. A unidade de ensino agora é usada como abrigo e centro de acomodação para mais de 400 famílias. A mãe da bebê, Amélia José, o pai, José Mateus, e o irmão de 5 anos, José, tiveram que deixar sua casa para trás em meio à destruição.
Campanha de vacinação em massa contra cólera
A Unicef classificou a situação como grave e disse que tem prestado apoio ao governo de Moçambique para restabelecer os serviços de saúde básicos, incluindo a vacinação, prevenção e tratamento da malária para as comunidades afetadas e também garantir que medicamentos essenciais estejam disponíveis nos centros de saúde e brigadas móveis.
As autoridades moçambicanas deram início nesta quarta-feira a uma campanha de vacinação em massa para conter a epidemia de cólera causada pelas inundações que se seguiram ao ciclone tropical Idai no centro do país no mês passado.
De acordo com o último relatório, mais de 1,4 mil casos de cólera já foram relatados em Beira, a segunda maior cidade do país devastada pelo ciclone, que matou duas pessoas.
A vacinação oral visa a cerca de 884 mil pessoas, ou seja, 80% da população que vive na região da Beira, segundo Marie Benigna, do Ministério da Saúde.
Financiado pela Vaccine Alliance (Gavi), esta campanha é liderada pelas Nações Unidas e por ONGs como a Cruz Vermelha, o Crescente Vermelho e os Médicos Sem Fronteiras (MSF).
O ciclone Idai atingiu o porto da Beira e seu meio milhão de habitantes em 14 de março.
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